Já repararam naqueles senhores que, nas feiras de Verão, se dedicam a vender mantas, toalhas, panos de cozinha, lençóis e afins, dentro da sua própria carrinha, conceito de espaço já de si interessante, de microfone em punho?
Não está só, o sujeito, que isto não é espectáculo que se organize assim do pé para a mão! Faz-se acompanhar de uma mulher, a sua, provavelmente, de olhar lânguido e inexpressivo, quase sempre um belo exemplar da espécie: buço bem visível, envergando uma gasta bata de limpeza, raiz de brancas com, pelo menos, dois centímetros.
Certo é que possui a nobre função de ir mostrando o artigo, à medida que este vai sendo descrito pela boca do especialista.
E que especialista!! Qual Eça, mestre da descrição, discurso e entoação capazes de fazer inveja a muito comentador da bola, movimentação e expressão corporal merecedora de um óscar cinematográfico!
E o homem não pára, e vira para a esquerda e agora para a direita, e ora pisca o olho à possível compradora, ora lhe atira um daqueles piropos de envergonhar a mais descarada das sujeitas, e desdobra a manta linda com o leopardo desenhado e aponta para a toalha de cozinha com o galo de Barcelos estampado, e grita, e canta, e gesticula energicamente: "Não me obriguem a roubar, eu quero é vender!!!"
Sinceramente! Quem é que é capaz de ficar indiferente a tão sensato apelo? Entre os euros para a fartura, para o churro e para a imperial, para a voltinha no carrossel e para o algodão doce, hão-de sobrar uns trocos para comprar qualquer ao senhor. Livrá-lo daquele sufoco. Aliviar aquela tensão passa a ser prioridade para qualquer família mais atreita à lamechice e dada à lágrima fácil.
"Ó Manel, estou a precisar de um resguardo para os miúdos!". O Manel, entre as canecas e os Pinochets, que depois de uma semana de trabalho está disposto a tudo para que reine a paz e o sossego, abre os cordões à bolsa e vai de resguardo e lençol de banho e lençol para baixo e lençol para cima e capa de edredão ... vai a família aviada com uns soquetes de brinde para os miúdos e um napron para a senhora, que a almas assim caridosas deve ser feito o bem ainda na Terra, para quê esperar tanto para lhes agradecer!
Continua o nosso Eça a queixar-se da vida e a bendizer a qualidade dos seus artigos de flanela e de algodão, segue o Manel e a família manuelina a maldizer da vida e da má-hora em que por ali passaram, continua a festa em qualquer lugar, por este país fora... São tesouros da nossa cultura nacional!
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